segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O casamento

Sempre me perguntam como consegui ficar tanto tempo casada. É uma pergunta bem comum nas rodas de amigos, quando comento que estou casado há quarenta anos. Estranho como essa pergunta vem acompanhada de um certo preconceito ou mesmo indignação, afinal, como eu ouso estar há tanto tempo casada, num mundo de casamentos relâmpagos e divórcios trovões.
Sempre respondo com bom humor, dizendo que o meu casamento é eterno porque não vai durar para sempre. Eles se assustam, mas é difícil mesmo explicar que casamento não tem obrigação de durar...

Um casamento não é feito de sociedade, de papel passado ou de alianças. Um casamento não é feito de promessas hipócritas de fidelidade eterna ou de lealdade prisão.
Um casamento não é uma fuga da casa dos pais com medo de passar a vida inteira sozinho. Um casamento não é uma união fútil em nome da religião, da “barriga” não esperada ou do interesse.
Quem é casado de verdade, não precisa de anel, seus corações fazem a ponte para o sempre, ligando-os em nome da manifestação do amor.
Casamento é uma parceria, um contrato espiritual entre duas pessoas, que independe de sexo, raça, crença e aparência.
Contrato espiritual, pois o laço que une um casal não pode ser descrito por idioma algum, só expresso pela linguagem dos corpos, pela expressão no olhar, pela comunicação entre ouvidos quando se troca sussurros de amor.
Contrato que nenhum padre, pastor ou guru possa sacramentar, pois o amor por si só é sagrado, dado incondicionalmente no encontro do olhar, na amizade profunda que não mais satisfeita em abraçar, quer estar dentro, fora, num eterno se encontrar e compartilhar.
Qual o segredo para que um casamento dure mais que um dia, um mês, um ano?
Não há segredos, pois pessoas casadas de verdade estão tatuadas de liberdade. São almas livres que sabem que nada dura para sempre e ainda, cada segundo ao lado um do outro é eterno; pois se vive o presente, sem perder tempo com amanhã. Liberdade nascida do respeito, da amizade e da consideração que ambos carregam e permeiam na sua união. Liberdade de compreender que os dois possuem visto para o país do Voltar a Ficar Sozinho, se for esse o destino que um deles optar. Liberdade para compreender que se é tempo de partir, pior seria ficar por pena, lealdade ou em nome da história do casal.
O casamento não é perfeito, pois nada nesse mundo está livre da “dualidade”. Há momentos bons e outros momentos não tão bons assim. Há arranca rabo, há brigas infantis onde se fica de mal e de bem no cair de um amanhecer. Há quebra pratos, arranha Cds e há também greve de carinho, de sexo e de sorriso; mas o casal sabe que embora isso ocorra vez ou outra, estar junto é bom demais para brigar ou para se viciar em jogos de gato e rato.
Desentendimento ocorre, desrespeito é intolerável.
Casamento não permite possessão, ciúme doentio, nem tão pouco libertinagem, pois liberdade exige respeito, consideração pelo parceira (o), e acima de tudo, respeito por si próprio, pois somente dando o devido valor a si mesmo, conseguimos valorizar algo tão precioso como a união entre duas pessoas.
Casamento deriva da palavra casa e isso nada tem a ver com teto, tijolo e garagem. Quando encontramos alguém que valha a pena dividir a nossa casa (corpo, mente e espírito) encontramos um lar; lar que carregamos conosco onde quer que formos.
Por fim, esses casamentos (e são raros) sustentam-se por tanto tempo, pois há uma preocupação constante em renovar-se; em surpreender quem acha que já viu e sabe todos os truques; em arrumar-se; embelezar-se, pois cada dia ao lado de quem se ama é uma festa, uma celebração em que precisamos vestir a melhor roupa, arrumar a casa e não se esquecer nunca de reconquistar e namorar..
(baseado em texto de Frank Oliveira)

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