domingo, 27 de junho de 2010

Depois do acontecido, quando não sobra nada além de sombras e dúvidas. Depois que resta apenas sentar e chorar... Depois que tudo se esvai e que a esperança pareça morta e inerte. Depois que as dúvidas de que o amanhã será mesmo uma realidade ou uma impossibilidade...

O que esperar de algo que pareça morto? O que poderia trazer de novo a esperança de que a vida possa mesmo re-continuar? O que pode trazer a certeza de que apesar de tudo o sol certamente nascerá outra vez?

Como uma vida morta poderia viver outra vez se já é de quatro dias e até cheira mal? De que forma uma impossibilidade possa transformar-se em uma possibilidade? Como seria possível isso diante de uma calamidade?

Não importa se morreu. Não importa se perdeu... Não importa se não deu... Não importa se não foi dessa vez... Não importa se acabou... Não importa se nos abandonou... O que importa então?

Recomeço é sempre muito difícil, mas possível... É a possibilidade surgindo do nada; de onde a esperança era falecida. Recomeço é a maior possibilidade de uma história ser recontada com um novo e maravilhoso final. Recomeço é uma nova fase de vida que re-começa depois do perdão. Recomeço é a graça derramada que nunca acaba.

Recomeço é tirar do que não existe o melhor para a existência. Recomeço é a conta zerada para que possamos seguir numa nova estrada e bem pavimentada. Recomeço é a alegria que fora roubada voltando pra nós de mala. Recomeço é uma nova canção quando da outra já estamos enjoados. Recomeço é um café fresco no lugar do requentado.

Como é bom recomeçar mesmo que um preço tenhamos que pagar. Como é bom saber que o pecado cometido já foi até mesmo esquecido. Como é bom saber que depois do choro encontramos o Amigo... Como é bom saber que o que passou, passou e que seguir em frente é a melhor opção a ser vivida.

Recomeço é isso... Recomeço é saber que mesmo depois de parecer estarmos mortos, ressurgimos!
Jailson Freire

terça-feira, 22 de junho de 2010

METADE


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste e que o convívio
Comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.
Oswaldo Montenegro

quinta-feira, 3 de junho de 2010