segunda-feira, 9 de maio de 2011

Amor,saudade e esperança

Por uma estrada, um dia, uma criança
Muito loira e risonha, nela andava.
Seu coração, tão cheio de bonança,
O pequenino peito palpitava.

Em uma das mãozinhas segurava um arco de ouro,
E noutra ela trazia setas douradas,
com que costumava ferir os corações, que sempre via

A boca cor de rosa, uma canção muito doce e divina balbuciava.
O canto extasiava o coração.
Era Amor, que cantando, assim passava.

Ele já ia em meio da jornada;
Porém, certa manhã de primavera,
Sentou-se numa pedra dessa estrada,
A meditar no mal que ele fizera.

"Meu Deus! Com essa minha travessura
Não pensei tanto dano assim causar."

E tendo a alma repleta de amargura,
Arrependido,
Amor pôs-se a chorar.

Nesse instante, porém, uma donzela,
que tinha as vestes verdes cor do mar, parou ali.
E a sua voz tão bela
Procurou o menino consolar.

-"Não chores mais, meu anjo, vem comigo, eu sei o que te causa tanta dor.

É por isso que eu venho ter contigo;
Enxuga esse teus olhos, Deus do Amor!"
-"Eu queria saber - disse a criança - O teu nome... Afinal como é então?"
-"Meu nome é lindo, chamo-me Esperança", respondeu-lhe com toda emoção.
-"Quero ir contigo, pela estrada afora,
Consolar esses pobres corações;

Eles sofrem por tua causa agora e choram as perdidas ilusões".
E os dois partiram, com as mãos unidas,
Sorrindo ia a Esperança a consolar.

Caminhavam assim, por avenidas,
que um sol ardente vinha iluminar.
Por muito e muito tempo eles andaram,
Até que enfim, em uma encruzilhada,
Cansados, Esperança e Amor pararam,
Estavam quase ao término da jornada.

Ali tudo era belo... Bem distante
Erguiam-se montanhas azuladas.
Aos seus pés, a água clara e murmurante
Passava sob as flores perfumadas.

Traído Amor e a Esperança,
Embevecidos,o céu de anil ficaram a fitar.
E como ambos estavam distraídos, não Sentiram alguém se aproximar.

"Aqui estou eu", falou uma voz dolente
Que também traduzia a ansiedade,
"Meu nome é triste - disse docemente - Mas é bem lindo, eu sou a Saudade.
- "Os corações, que tu Amor, feriste, Agora estão cansados de chorar".
- "Tu, Esperança, tanto os iludiste!...
Pra que foi que os fizeste em vão sonhar?"
-"Ficai! Que junto aos pobres desgraçados
Saberei preencher vosso lugar"

-"Eles hão de sorrir mais consolados;
Junto deles eu sempre hei de ficar".
-"E há de então repassar-lhes pela mente o passado, que outrora os fez sonhar.
-"Quem sabe se mais lindo e mais sorridente,
Porque com Saudade hão de evocar!"

Assim é a vida. Amamos e sentimos
A Esperança afagar o coração;
Porém bem cedo nos desiludimos.

Junto a nós Saudade fica então.
(Autora: Diléia Prado)

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